Um Blog de percepções, de afetos e algumas bobagens cotidianas.


domingo, 26 de setembro de 2010

A vida dos outros.

Nesse finde eu aproveitei para colocar em dia alguns compromissos comigo mesma, do tipo filmes que gostaria de ver e livros que gostaria de ler. Ainda estou em débito com as visitas às mostras, às tias, aos bebês lindos das amigas, ao shopping, à manicure, aos médicos... uff.. bom, mas já me sinto mais leve de toda a forma.

Assisti finalmente "A Ilha do Medo", que me foi muito recomendado e talvez por isso eu não tenha conseguido gostar tanto. O Scorsese é sim um dos meu diretores top e não posso deixar de aplaudir um dos últimos trabalhos que foi "O Aviador" (também com o Leonardo Di Caprio, sempre me surpreende). Mas "A Ilha do Medo" em termos de narrativa para mim deixou a desejar, embora tentasse nos conduzir para uma coisa bastante "After Hours" (imbatível), surrealista, Bergman inspired, o nonsense nesse caso muitas vezes me pareceu bobo. Não foi um filme que fluiu legal e algumas vezes eu me percebi querendo ir até a geladeira.

Bom, agora estou enterrada num livro chamado "As vidas dos artistas", o qual recomendo fortemente para os entusiastas da arte contemporânea. O autor é Calvin Tomkins, que faz uma coletânea dos textos que publicou por mais de uma década na revista The New Yorker falando sobre o perfil dos principais nomes da arte mundial: Damien Hirst, Cindy Sherman, Julien Shnabel, Richard Serra, James Turrel, Matthew Barney, Maurizio Cattelan, Jasper Johns, Jeff Koons, John Currin.

Sim, é um livro de bastidores, da motivação por trás das obras, onde a gente faz uma viagem até a vida pessoal de cada artista e começa a compreender as escolhas não só as estéticas, mas as particulares de cada um deles. Damien Hirst por exemplo, não foi o grande exemplo de um artista prodígio entre os YBAs (Youg British Artists), mas tinha um talento incrível para promover a sua obra e captar recursos, além de um olho afiado para identificar novos talentos. Começou do zero sendo recusado em algumas escolas de arte - quando, sem conseguir ficar parado, foi fazer um curso de anatomia no necrotério -, inventou uma, duas, três, quatro, tantas outras mostras reunindo o pessoalzinho do Goldsmiths' College e alguns de fora como a ótima Rachel Whitered.


Damien e sua obra mais conhecida, The Physical Impossibility of Death
in the Mind of Someone Living

Damien Hirst

1991

Damien fez os amigos certos, todo mundo achava que ele deveria investir na carreira de curador. Mas não. Ele insistiu e conseguiu com um dos trabalhs artísticos mais polêmicos de todos os tempos se colocar no mundo da arte. E depois de conseguir o que queria se refugiou com a mulher e os filhos na praia onde mora até hoje.

Some Comfort Gained from the Acceptance
of the Inherent Lies in Everything
Damien Hirst
1996

Away from the Flock
Damien Hirst
1994


Implicante, sarcástico e, de novo, polêmico - pois não haveria palavra mais certa para definir Hirst - esse grande realizador da arte contemporânea conseguiu exatamente o que queria e mostrou que "limite", assim como "arte" é uma palavra bastante relativa.

"Arte, amor e Deus - palavras idiotas, das quais provavelmente a mais idiota seja arte. Não sei o que é arte, mas acredito nela até agora." (Damien Hirst)

Sketchbook o livro,

Ai que delícia.

Fiquei sabendo através do blog do Renato Alarcão que acaba de ser editada pela Pop (além de editora é uma livraria e galeria bacaníssima de Sampa, ali no Pinheiros) uma publicação que compila uma coleção de 26 cadernos de artistas visuais brasileiros. São os conhecidos sketchbooks, que delatam os processos criativos de mentes iluminadas como Guto Lacaz, Renato Alarcão, Angeli, Lourenço Mutarelli, Rafael Grampá, Titi Freak, Alex Hornest.

Quem escreve a introdução da edição é o Charles Watson, que esteve por aqui tantas vezes ministrando seus workshops sobre processo criativo.

Já era ora mesmo de alguém se mexer para dar uma pesquisada nas gavetas desses criadores, me parece que deu samba. Garantirei o meu em breve.